Última segunda feira de 2019. Ano que veio a reboque de 2018, um ano de muitas mudanças no país e no mercado segurador. As notícias começaram com balanços de 2018 publicados em fevereiro. Todos previam resultados ruins e o setor encerrou 2018 com lucro, totalizando R$ 14,7 bilhões, acima dos R$ 13,4 bilhões de 2017, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) compilados pela consultoria Siscorp. Em 2019, até novembro, o lucro do setor totaliza R$ 15,7 bilhões. Feito conquistado mesmo com a queda da taxa de juros básica, a Selic, que remunera quase a totalidade das reservas técnicas. O ganho operacional do setor passa a ser mais representativo, compensando assim o declínio da taxa de juros e, consequentemente, do ganho financeiro.
Em vendas, o setor decresceu 0,7% em 2018, puxado pela queda no volume de arrecadação do VGBL e do DPVAT, de acordo com estatísticas da CNseg. Mas cresceu em algumas linhas importantes, mostrando a diversificação do setor, que na última década estava concentrado em automóvel e previdência aberta. A economia titubeou com confusões na política, mas avançou, levando junto o mercado segurador. Em junho, a CNseg reduziu as projeções do crescimento anual do mercado segurador do intervalo de 4,7% a 6,9% para 4,5% a 7,1%. Mas em dezembro, uma reviravolta. Marcio Coriolano anunciou nova perspectiva: crescimento de dois dígitos. Até outubro o indicador era de 12,6% (sem considerar DPVAT e Saúde).
Em março, uma significativa mudança: Susep comandada por uma mulher, economista e cheia de energia para tirar as amarras que atrapalham o crescimento do setor. “Acredito no seguro e na força dele para o desenvolvimento do País. Estamos falando de um mercado gigante. Precisamos desregulamentar e desburocratizar o setor, aumentar a competição, garantir segurança jurídica e, acima de tudo, tornar o seguro um produto simples e acessível à população”, destacou Solange Vieira durante a cerimônia da sua posse.
Em dezembro, Solange Vieira tentou acabar com o DPVAT, mas não conseguiu desta vez. Mas avisou que o monopólio no seguro obrigatório acaba em 2021. Mas conseguiu feitos importantes. No segundo semestre do ano, a Susep permitiu o lançamento de seguros intermitentes e acabou com a regulação dos corretores de seguros, que segundo ela, estão aptos para atuarem com a auto-regulamentação. Também deu início a regulação das seguradoras por tamanho e ramos de atuação, algo que já acontece em mercados maduros. E promete para 2020 as normas regulatórias para as insurtechs. Certamente o número e o volume de prêmios já gerados pelas novatas irão surpreender a todos.
Tivemos várias notícias de fusões, aquisições e parcerias em canais alternativos, como varejo, bancos digitais e plataformas de investimentos. O Banco Central regulamentou as fintechs e deu a elas a liberdade de atuar com seguros de vida. Várias delas buscaram seguradoras e as parcerias andam a todo vapor. Algumas empresas deixaram de operar, como a Travelers, outras se uniram, como a Austral e a Terra Brasis. Muitas ampliaram o escopo de atuação, como a Tokio Marine em seguros cibernéticos, e outras reduziram o campo de atuação.
O tema diversidade definitivamente se instalou no setor como uma das prioridades das empresas. Agora precisa sair do discurso e partir para a prática. Algumas associações foram criadas e conseguiram patrocínios suficientes para apresentarem projetos concretos, que sejam algo muito além de gerar networking entre todos do setor.
Para 2020, certamente o ritmo frenético por conhecimento vai seguir, capitaneado por parrudos investimentos em tecnologia para possibilitar a redução de despesas, aumento de capilaridade, oferta assertiva de produtos e, principalmente, colocar o cliente no centro da estratégia. De verdade. Como diz Márcio Coriolano, presidente da CNseg, “precisamos de um ambiente de negócios mais amistoso, um processo de desregulamentação para ofertar produtos mais flexíveis para a população e um mercado aberto que estimule novos negócios”.
O setor definitivamente entrou no mundo dos dados para conquistar novos clientes e lidar com riscos emergentes. A tecnologia ficou mais barata, os smartphones e a comunicação digital geram um crescimento exponencial de dados praticamente em tempo real, tanto da própria carteira de clientes como pelos captados em redes sociais, drones, dados governamentais e corporativos. O blockchain permanece em banho maria à espera de regulação, mas o mundo digital faz explodir o campo de oportunidades para todos, gerando o mantra “como podemos estar em melhor posição para enfrentar essa nova dinâmica do setor” entre os que atuam e os que querem atuar com seguros, um mercado que movimenta anualmente mais de US$ 5 trilhões no mundo.
Estudo da Deloitte destaca algumas perspectivas para 2020:
- 62% das seguradoras consideram que os produtos “não segurados” são os fatores mais importantes para a escolha de uma seguradora (ex.: serviços/facilidades associados ao seguro);
- 57% dos participantes entendem que o acesso à uma equipe de assistência amigável e eficiente é o principal fator de retenção;
- 45% dos participantes entendem que o principal desafio para o crescimento está associado ao entendimento das expectativas e necessidades dos clientes (nos últimos três anos o principal fator apontado eram obstáculos regulamentáreis/legais;
- A receita de serviços associados aos seguros deve subir de 35% para 61% nos próximos 3 anos;
- 33% dos prêmios virão de novas proposições em 2024;
- As fusões e aquisições devem impulsionar cerca de 50% do crescimento da indústria nos próximos 5 anos (para 70% dos participantes);
- 95% dos participantes acreditam que vão aumentar o uso de análises avançadas de dados nos próximos 3 anos;
- 51% dos participantes entendem que o principal desafio de operar de forma digital consiste em atender aos requerimentos regulatórios de cyber segurança e privacidade de dados
2020 começa como os outros anos, cheio de otimismo. Que ele realmente aconteça e traga emprego, aumento de renda e proteção sob medida para todos. Sem excessos, pois a quarta revolução industrial deixa claro que menos é mais para se ter mais qualidade de vida, de relacionamentos, de negócios e de política.
Desejo a todos um 2020 repleto de boas notícias. Que muitos saiam da zona de conforto para abraçar este novo mundo que exige estudo em algoritmos e que mescla robôs e humanos e também jovens e +50. Muitas vezes as notícias parecem ruins, mas no final elas surtem um efeito revigorante. Que nosso foco seja o crescimento sustentável, com a divulgação transparente dos fatos que tanto afetam nosso dia a dia e o futuro de toda uma nação.
Que venha 2020!!!! O blog Sonho Seguro praticamente dobrou em número de leitores, bem como de seguidores nas redes sociais em que atua (Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn). E inovou mergulhando no mundo dos podcasts. Espero contar com todos para a produção de conteúdos relevantes e diferenciados para agregar valor a este apaixonante mercado de seguros.
Fonte: Sonho Seguro